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60 anos de um golpe e em 10 já vivi outro

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  Vivi os 50 anos do último golpe militar no meu primeiro ano no Brasil. Para um argentino, ver entrevista a um torturador livre na capa do principal jornal de Porto Alegre, era um absurdo. Nasci no oitenta em Buenos Aires, com três anos vivi a volta da democracia, com cinco julgaram os comandantes da ditadura, com nove Menem indultou eles, com dezesseis a primeira mobilização pelos vinte anos do golpe. Com Kirchner os militares voltaram para a cadeia, julgaram quem não tinha sido julgado, prenderam padre, ex-ministro da fazenda. Mas nunca são prendidas as mil famílias que mandam fazer aos militares, que botam os ministros da fazenda. América Latina é uma grande Casa Grande. Cresci me perguntando como é que a sociedade não fazia nada, diante de tudo aquilo. Era medo? Tive uma resposta sobre isso em Rosario, numa Jornada de Psicanálise e políticas públicas que fui convidado, organizada pela agrupação La Masotta, onde ouvi Emilce Moler , uma das sobreviventes de “La noche de los lápi

Carnaval e o mentiroso Harmonia

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Bandeira, um amigo com mais de setenta carnavais em Salvador, disse que segunda iria pular com Xanddy Harmonia. Pensei: se Bandeira desce, é para ir. A concentração era às 17h, saí de casa às quatro e meia. Desde Rio Vermelho não consegui Uber até Ondina, a distância é curta e os motoristas cancelavam pelo valor. Pensei em ir andando, mas lembrei das bikes do Itaú e fui pegar uma, sem antes olhar se as estações de Ondina ainda estavam. Tive que deixar a bike na Garibaldi, passando a UFBA. Se tivesse ido andando, teria caminhado menos. Uns amigos argentinos me aguardavam na frente do camarote da Brahma, do lado do clube espanhol. Indo pela Oceânica vi o trio elétrico, e um cara com uma moladora, arrumando algumas coisas. Soube que não iriam cumprir com o horário planejado. O que não imaginei, é que iriam fazer o povo esperar quatro horas. O trio saiu às nove da noite. Harmonia deve ter chegado umas sete e média. A van parou do lado do trio, o cara jogou uns beijinhos para o público

A dor da impotência

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  Quando é que vão parar? Ninguém pode parar eles? O problema de quem tem mais força é esse, impõe sua força, e quem evita? Penso em Israel bombardeando Gaza, vejo jovens israelenses matando crianças, que andam de bike pela rua. Penso no policial negro, batendo no jovem negro, e a comunidade vendo, sem fazer nada, porque sabe que se agir, também pode apanhar, ou levar tiro. É um problema de covardia, ou da força do medo? Apanhei do pai, até os onze anos. Até hoje, trinta e dois anos depois, carrego as marcas daquilo. Quando era criança, tinha um amigo que gostava de brigar, treinava para isso, fazia karatê. Eu perguntava para ele: mas quando é que o outro para de te bater? Era a pergunta que eu me fazia: quando é que meu pai vai parar? Isso não impedia eu fazer aquilo que meu pai proibia. Sabia que de qualquer jeito iria apanhar, seja pela caligrafia nos cadernos, seja porque caiu o garfo enquanto comia, seja por alguma coisa que falei. Então, diante da certeza de que iria apanhar,

Obrigado Brasil, já 10 anos

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  Tinha que sair de Buenos Aires. Foi uma loucura achar que conseguiria tirar a minha mãe da loucura. Tinha uma fé absurda no poder da palavra. Passei dezessete anos tentando tirar essa mulher da cama. Os primeiros cinco, morrendo de medo quando ela se enfiava na minha. Pinel, o psiquiatra francês, considerado pai da reforma psiquiátrica, por ter tirado as correntes das pessoas, considerava que era preciso fazer os hospícios no meio da natureza, porque as pessoas recuperariam, por osmoses, o equilibro perdido. Eu estava completamente desequilibrado. Antes de mudar para o Brasil, já tinha ido ver consultório numa cidade do interior de Buenos Aires, San Antonio de Areco, cidade de romance do século dezenove, pampa. Lá tem “pulperia”, o antigo bar dos gaúchos, onde os piões bebiam, e os fazendeiros chegavam lá, e faziam todo tipo de comentário idiota que fazem os patrões. Estudei psicologia para não ter patrão e não acordar cedo. A meta era viver numa cidade com mar, com Laura tínhamos p

Lula, Messi e as exigências

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Assim que li o tweet da conta do Lula, dizendo que Bola de Ouro não combina com farra, noitada, lembrei do Maradona, do Romário, do Ronaldo, do Ronaldinho. Mas depois pensei: Lula é mais um brasileiro demandando responsabilidade do melhor jogador brasileiro, e quem sabe, também esteja dando o trocado para o moleque. Como psicanalista pensei: porra, Lula! Não precisa botar mais pressão na juventude. Temos uma geração criada com esse ideal de ser “o winner”, o número um; que quando não atingem as expectativas, passam mal, e as vezes tiram a vida. Tem aquele filme yankee, “Se enlouquecer, não se apaixone”, que mostra um adolescente, rico, que quer tirar sua vida, porque ele não quer ser aquele homem que seu pai deseja que seja; e o jovem não aguenta mais a pressão. Situações como essas acontecem em todas as classes sociais. É isso que acontece com Neymar? Não sei. Mas é público que no futebol tem muito jovem sendo pressionados pelos pais, para fazerem à família rica. Se tem coisa q

Salvador: a melhor cidade da América do Sul

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  Vou pecar de brasileiro, e sem conhecer todas as cidades da região, vou concordar com Gal e dizer que vivemos na melhor cidade da América do Sul. A gente vive numa cidade com mar, muito verde, muita cultura nas ruas e frio aqui são vinte-e-quatro graus. O povo baiano é maravilhoso. Aqui a galera se guia pela energia: o Santo bateu ou não bateu. Em todo qualquer bairro de Salvador você encontra musicistas fazendo uma roda de samba, um forró. Se você for sensitivo, vão chegar mensagens para você. Morar em Salvador é o mais perto que fiquei da África. O povo aqui é generoso, hospitaleiro. Não tem medo de ser feliz. Claro que vai ter quem fale: “Santiago, Salvador não é tudo isso romantizado que você está pintando”. Eu sei que Salvador é mais uma cidade na América Latina e tem os mesmos problemas com o crime organizado, que têm os países da região. Claro que maiores, o Brasil tem mais habitantes. Mas o que fica claro, é que não são as facções que organizam o negócio.

A PM da Bahia está esperando o quê para prender o cara? Matar ela?

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    No Instagram, Felipe Guedes compartilhou uma postagem de Paloma Zahir , no qual a Afro chef de Salvador, começou escrevendo “Esse pode ser meu último post, hoje também pode ser meu último dia, a verdade mesmo é que eu tenho a sensação de que talvez não consiga terminar esse post”. Postou desde o DEAM. Existe media protetiva, mas não protege. Há um ano que ela e seus filhos continuam sofrendo a violência desse homem. Uma e outra vez o homem voltou fazer o mesmo. A PM da Bahia está esperando o quê para prender o cara? Matar ela? Ordem do judiciário? Existe alguma dúvida de que esse cidadão está cometendo crime? Não só está em risco a vida de Paloma, quanto também ameaçou a mãe dela, e as situações que as crianças têm que passar. Na Argentina atendi os filhos de uma mulher que foi assassinada pelo marido, após quantidade de vezes que a mulher foi na delegacia denunciar. Só faziam BO. A filha estava o dia que a mãe foi na delegacia, e disse que o homem tinha apertado o gati