A PM da Bahia está esperando o quê para prender o cara? Matar ela?

 

 

No Instagram, Felipe Guedes compartilhou uma postagem de Paloma Zahir, no qual a Afro chef de Salvador, começou escrevendo “Esse pode ser meu último post, hoje também pode ser meu último dia, a verdade mesmo é que eu tenho a sensação de que talvez não consiga terminar esse post”. Postou desde o DEAM. Existe media protetiva, mas não protege. Há um ano que ela e seus filhos continuam sofrendo a violência desse homem. Uma e outra vez o homem voltou fazer o mesmo. A PM da Bahia está esperando o quê para prender o cara? Matar ela? Ordem do judiciário? Existe alguma dúvida de que esse cidadão está cometendo crime? Não só está em risco a vida de Paloma, quanto também ameaçou a mãe dela, e as situações que as crianças têm que passar. Na Argentina atendi os filhos de uma mulher que foi assassinada pelo marido, após quantidade de vezes que a mulher foi na delegacia denunciar. Só faziam BO. A filha estava o dia que a mãe foi na delegacia, e disse que o homem tinha apertado o gatilho de uma arma, sem balas, na cabeça dela. O assassinato saiu em todos os jornais, encontraram o corpo da mulher em um freezer. O que está vivendo Paloma é uma mostra do risco que significa ser uma mulher negra no Brasil.

Fui vítima de violência, assim conheci a psicanálise. Foi após passar pelo serviço de violência familiar de um hospital público, após ter feito os testes diagnósticos no tribunal. Aos onze anos sentei pela primeira vez em um divã. Na faculdade de psicologia da Universidade de Buenos Aires, na disciplina Psicopatologia, tínhamos que fazer um estágio, e eu escolhi o único serviço de assistência a homens violentos da cidade. Eu quis experimentar isso, para não ter vontade de pular no pescoço do cidadão, caso tivesse que ouvir um desses quando me formasse. A maioria ia porque tinham sido enviados pelo tribunal. A maioria repetia “se tivesse sabido de todo esse processo, nem batia nela”. Meu pai também parou de me bater e na minha irmã, após a denuncia da minha mãe no judiciário. Ouvi só dois que sofriam por fazer mal na mulher e nos filhos, e reconheciam precisar de ajuda.

Quando me formei, e comecei trabalhar em um serviço de saúde, a 40 km de Buenos Aires, na cidade de Moreno, em um dos municípios mais pobres, a linha da Direção de Saúde Mental era psicanalítica. Para trabalhar aí era condição estar em análise e fazer supervisão. A prefeitura pagava supervisão psicanalítica. A gente também pagava a própria. A única coisa que eu pedi foi: estuprador eu não atendo, não vou conseguir ouvir direito. A primeira vez que ouvi uma criança de três anos, contar o que tinham feito com ela, no outro dia não consegui ir trabalhar. Não tive como sair da cama. Mas quando me encaminharam o paciente, o diretor me disse: “a pessoa mora na tua área programática, você é o único psicólogo e o serviço de violência familiar indicou terapia. O cidadão tem direito de ser ouvido”. A colega do serviço de violência me disse que o cara negava o que a filha contou. Mas quando em uma sessão, enquanto contava que a mãe cometeu abuso sexual com ele, se interrompeu e disse: “olha, eu repeti o que fizeram comigo”. Eu perguntei: repetiu o quê? O cara não voltou mais.

Atendi uma menina, que contou para a mãe que o pai quando saiu do banheiro, com a toalha amarrada na cintura, quando passou pelo lado da filha, se aproximou dela, abriu a toalha, mas quando viu a cara que a menina fez, o cara cobriu-se de novo. Desculpou-se, e disse que preferia que não contasse para a mãe, mas que podia contar. A menina contou na escola. Aí que me envolveram na situação. A mulher era apaixonada por aquele homem. Ela tinha sido vítima de abuso sexual quando menina. Sabia que o homem também. Mas separou. Ela dizia que além disso, não tinha o que reclamar do homem como pai. O homem queria ver os filhos, as crianças queriam ver o pai, e foi criado um dispositivo para que isso acontecesse em um espaço público, e com as crianças acompanhadas por uma assistente social. O homem estava vivendo na casa do irmão. Abusou da sobrinha. Suicidou-se. No bilhete que deixou, escreveu que fez isso para não fazer mais mal a ninguém. A filha sentia-se culpada por ter contado. Acreditava que se ela não tivesse contado, o pai seguiria vivo.

Parece não ser o caso do homem que está violentando a vida de Paloma. O Estado determinou medida protetiva, mas nem a mulher, nem as crianças estão protegidas com esse cidadão solto. Sabe que não pode se aproximar de um lugar e se aproxima. Sabe que está fazendo mal para a mulher e as crianças e continua fazendo as mesmas coisas. E a vida dessa mulher está em risco. Uma mulher corajosa, que conseguiu se separar, que está cuidando de sí e de duas crianças e tem que denunciar a violência que sofre nas redes sociais, porque não está sendo protegida por quem deveria. Tomara a ação no DEAM, garanta proteção para Paloma, as crianças e a mãe de Paloma, que também foi agredida e ameaçada por esse homem. Vamos botar pressão nesse judiciário, para garantir a segurança das mulheres que são vítimas de violência.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lula, Messi e as exigências

60 anos de um golpe e em 10 já vivi outro